Relatórios da escuta diocesana do Brasil demonstram que os leigos desejam ser voz mais ativa na tomada de decisões na Igreja
“Desde o início da composição da equipe eu já tinha considerado este trabalho como de grande responsabilidade. Nós tínhamos um desafio mas também uma grande responsabilidade de acolher a voz de todo Brasil, de produzir uma síntese que de fato comunicasse o que as pessoas falaram na fase diocesana. Nesta semana que estivemos reunidos presencialmente essa sensação da responsabilidade se intensificou. Nós ouvimos muitos desafios, muitas opiniões diferentes e é sempre muito difícil colocar no papel isto tudo pensado que a voz da pessoa que participou da escuta diocesana chegará na Secretária Geral do Sínodo lá em Roma. Vejo primeiro como uma grande responsabilidade mas também como uma grande honra. Porque este ponto que eu analisei fala exatamente sobre as pessoas que querem ter voz. E nosso papel, enquanto equipe nacional, é dar voz à estas pessoas”.
O relato acima é parte da entrevista que a leiga, assessora da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e membro da Equipe de Animação do Sínodo 2023 no Brasil, Mariana Aparecida Venâncio, após o trabalho da Equipe de Animação do Sínodo 2023 no Brasil, que se encontrou na sede da CNBB, de 8 a 12 de agosto, com a tarefa de realizar a síntese das contribuições enviadas da fase de escuta realizada pelas Igrejas Particulares.
De acordo com ela, os relatórios revelaram uma grande profundidade de reflexão. “As respostas não foram generalizadas no sentido de dizer que os leigos não têm voz mas no sentido de mostrar que os leigos desejam ser uma voz mais ativa. De modo geral, os leigos e leigas consideram que há espaço dentro da estrutura eclesial para que eles se pronunciem e se expressem. Mas eles têm o desejo que sua voz seja mais levada em consideração nas tomadas de decisões. O grande problema que percebemos pelas sínteses recebidas é a sensação que as pessoas têm de poderem falar mas que as falas caiam no vazio e não sejam consideradas nas decisões”, disse.
O desejo das pessoas, segundo os relatos das dioceses, é o de sentir que nas decisões finais sua voz tenha sido ouvida e considerada, mesmo que as opiniões e decisões finais sejam diferentes de sua opinião.
Os conselhos eclesiais, de acordo com a assessora da Comissão Bíblico-Catequética da CNBB, foram apontados como instrumentos considerados como lugar de liberdade de expressão. “Achamos muito interessante isto, porque o assunto dos conselhos apareceu como transversal em vários dos aspectos perguntados e eles são entendidos como lugar de liberdade de expressão. Mas ainda no movimento de serem aperfeiçoados para que esta expressão não seja uma fala escutada mas, de fato, levada em consideração”, ponderou.
A Igreja no Brasil e a comunicação
Sobre o aspecto da comunicação, Mariana afirmou que os relatórios apontam, de um modo geral, que a Igreja se pronuncia na sociedade, entendem que ela ainda tem uma voz muito respeitada mas que esta voz precisa ser amadurecida principalmente pela capacitação dos leigos e leigas para se inserirem na sociedade e falarem de forma coerente com a Igreja.
“Um grande desafio apontado nesta linha foi o da formação para que as pessoas se insiram nos diferentes campos da sociedade, como a política e também nas redes sociais. As sínteses indicaram a presença mas a falta de formação para o uso destes meios. É interessante a avaliação de que a Igreja tem voz mas que precisa ser aperfeiçoada e potencializada”, disse.
As experiências de comunicação relatadas, especialmente a partir do início da pandemia, são vistas como muito positivas, tempo no qual muitas paróquias e dioceses criaram seus próprios meios de comunicação. De uma maneira geral, conforme informou a representante da Equipe de Animação do Sínodo 2023 no Brasil, aparece nos relatos que a Igreja tem uma relação muito positiva com os meios de comunicação, especialmente com os católicos mas uma relação crescente ainda com os não católicos.
“Foi visto de forma muito enfática a questão da inserção particular, paróquias e dioceses que criaram seus próprios meios, mas também se vê com muita maturidade a necessidade de ampliação, de formação e capacitação para que esses meios sejam usados em toda a sua potencialidade para a evangelização, não para autopromoção e para disseminação de discursos de ódio. Falou-se muito também da necessidade de capacitação sobre as fake news para que as pessoas saibam identificar e não passem para frente, o que seria um contratestemunho cristão”, concluiu.
Veja, abaixo, a entrevista na íntegra: https://youtu.be/mMEXPYa1Tp8?list=PLD-bgXwLtAG3BCtOFK_NK8JGMfL8i37pJ