In Palavra do Bispo10 de dezembro de 2022

A Família, como vai?

Certo dia Jesus disse: “Cada árvore se reconhece pelo seu fruto” (Lc 6,44). Isto significa que, ao conhecer os filhos de alguém e observar a forma como se comportam, sabemos como é a família deles, especialmente os pais. Portanto, no encerramento da peregrinação das relíquias de Santa Teresinha pela Diocese de Marília, desejo falar de seus pais Zélia e Luís Martin. Não é um casal de super-heróis e nem viveram nas nuvens, mas formaram um casal comum, dentro dos padrões normais da sociedade, aberto ao diálogo e ao trabalho. Um casal que soube viver o Evangelho na realidade humana de alegria e de sofrimentos, fixando o olhar sempre em Deus.

Zélia e Luís souberam viver os valores evangélicos e foram o fermento de uma vida nova no meio da massa. Cada um veio de um lugar diferente, mas os caminhos do Senhor não são os nossos. Os dois pensavam, nas suas juventudes, em entregarem-se à vida religiosa, mas não foram aceitos, por motivos diferentes. Encontraram-se e foi um amor à primeira vista. No diálogo, na oração e na direção espiritual encontraram comunhão e descobriram que o matrimônio tem também, como finalidade, a mútua ajuda, e ajudar a Deus a ter mais filhos e filhas para amar.

Tiveram nove filhos, quatro morreram na infância e as cinco filhas que sobreviveram foram todas consagradas a Deus, quatro no Carmelo de Lisieux e uma Visitandina. Entre as carmelitas, a caçula, Santa Teresinha do Menino Jesus, foi um gênio da espiritualidade. Queria ser santa, mas, por sua fragilidade física e emocional, não se encontrava capaz de percorrer os antigos caminhos da santidade, feitos de penitência, de dons extraordinários, êxtases e de dons especiais. O que fazer? Teresinha não desanimou, mas descobriu um caminho novo, reto, universal, fácil, feito de amor e de abandono. Durante a vida da mãe Zélia, e depois de sua morte, Deus sempre foi, na família, o centro do amar e do agir. Este exemplo deve reavivar, em todos os casais, a força do amor e do diálogo. A educação integral dos filhos, educação espiritual, intelectual, está em primeiro lugar. O casal Matin educou pouco com palavras e muito com o exemplo.

Hoje em dia, sejam os psicólogos, como os sociólogos sérios, se dão conta de que muitas das realidades obscuras da sociedade, da criminalidade, do suicídio de jovens, do abandono dos velhos, e das crianças desestabilizadas, que se entregam às drogas, são frutos da ausência dos pais na família, dos divórcios, dos matrimônios que, por falta de amor e abnegação de si mesmos são alimentados pelo egoísmo e busca da própria felicidade. Devemos reagir, e para isso a Igreja realizou um Sínodo sobre a família em 1980, convocado pelo Papa São João Paulo II, que teve como fruto a Exortação Apostólica Familiaris Consortio, em 1981.

Recentemente, o Papa Francisco convocou um novo sínodo sobre a família e nos deu como resultado um documento de esperança, de vida e de coragem, abrindo novos horizontes: Amoris Laetitia. Educar para Deus, para os outros, eis a grande missão da família. E Zélia e Luís foram educadores de verdade, no sentido mais pleno da palavra. Não educaram debaixo de uma redoma de vidro, mas para horizontes abertos e uma sadia vivência em sociedade. Educar para a vida e os seus valores, educar para sair do próprio egoísmo e estender a mão para vir em socorro dos pobres, dos últimos e, ao mesmo tempo, sentindo-se necessitados de ajuda.

São Luís e Santa Zélia roguem por nós, e ajudem a todos os casais a viver em plenitude o próprio matrimônio!

DOM LUIZ ANTONIO CIPOLINI
BISPO DIOCESANO