Pandemia mudou a dinâmica da pastoral. Recitação virtual do terço fortalece a comunidade, explica a idealizadora
Com a pandemia do novo Coronavírus (Covid- 19) toda dinâmica da Pastoral dos Surdos foi reformulada e, deste modo, surgiu a ideia da transmissão ao vivo dos terços, que inclusive é inteiramente rezado pelos surdos, compactuando com os ideais da comunidade que há mais de 30 anos luta para dar voz e espaço para essa camada da sociedade.
A Comunidade Éfeta, nome de origem do que hoje é denominado a Pastoral Dos Surdos, foi fundada em 18 de junho de 1989 pela Professora Ione de Fátima Francisco, que antes da formação da pastoral já realizava encontros de catequeses em escolas estaduais de Marília, Garça, Vera Cruz e Pompéia.
A primeira Missa foi realizada na Catedral Basílica de São Bento, em Marília, tendo como primeiro intérprete da comunidade a mãe da fundadora, Emília Fagnani Francisco, que explicava a missa movendo seus lábios lentamente para que a filha pudesse fazer a leitura e passar para os membros da comunidades que, inicialmente, contava com sete crianças.
A Pastoral dos Surdos da Diocese de Marília serviu de base como também forneceu suporte para a formação de outras pastorais nos arredores do interior de São Paulo, por ser a precursora de todo esse movimento de integração, tornando o sonho idealizado por Ione uma realidade para uma geração.
As ações da pastoral são interligadas com toda a vida de seus membros, dando assistências em situações do cotidiano como agendar consultas, acompanhar reuniões de escolas (uma vez que inúmeras dessas atividades não possuem a presença de um intérprete). Segundo Ione, todos esses suportes são cruciais para manter toda comunidade unida e caminhando como uma família.
Em entrevista com o Departamento de Comunicação da Diocese de Marília, Ione relata que “a pastoral teve como seus membros iniciais apenas crianças quando tudo começou, hoje são adultos casados, eles têm um vínculo muito forte com a comunidade, ou melhor dizendo, eles são a comunidade. E em meio a esse momento de isolamento, todos os dias eu percebi que estavam muito preocupados e sentido falta do contato com a Igreja, e foi pensando neles que foi elaborado essa dinâmica virtual (Terço Dos Surdos) para que eles se sintam mais fortes nesse momento tão delicado. E mais uma vez me sinto muito feliz com o resultado, pois toda a estrutura realçou a proximidade da comunidade em meio a palavra de Deus”.
No final da entrevista, Ione deixou a seguinte mensagem: “nós necessitamos de pessoas que se prontifiquem a trabalhar na pastoral, para que possa ser passado a palavra de Deus aos surdos. Pois são pessoas como todos nós, mas são esquecidos pela sociedade”.